
Estou a ler a “A Revolução Transumanista”, livro do filósofo francês, Luc Ferry, publicado em 2018, pela Editora Manoele Ltda-SP, cujo tema trata de inovações tecnocientíficas. Algumas perspectivas constantes dessas inovações são empolgantes, enquanto outras são assustadoras. Torná-las inteligíveis e reabilitar o ideal filosófico da regulação, é, hoje, vital tanto para a Medicina quanto para a Economia.
A ideia global é a de que já se iniciou a terceira Revolução Industrial, cujo núcleo encerra o acrônimo NBIC: N, de Nanotecnologia (ciência que trata da manipulação de matérias em escala atônica e molecular; B, de Biotecnologia (união de técnicas que os cientistas usam para manipular materiais genéticos de seres vivos, de fins industrial e medicinal; I, de Informática; C, de Cognitivismo, ou Inteligência Artificial: coração do coração.
Aliás, diz-se que a inteligência Artificial (AI) é base de dois efeitos da terceira Revolução Industrial. A primeira é o Airbnb e a segunda é o amplo projeto Transumanista, fulcrado engenharia genética. Aliás, a Google, através da empresa Calico, investiu grande soma de dólares rumo à imortalidade: morte da morte.
O prolongamento da vida, e muito mais a “morte da morte”, produzirão problemas nos diversos planos da vida humana, entre os quais o demográfico, econômico, metafísico, ecológico, o ético e o político.
O Transumanismo objetiva melhorar o bem-estar da Humanidade: no físico, intelecto, emocional e moral, através do avanço das ciências, da biotecnologia. Ao mesmo tempo, a Revolução Transumanista caminha rumo à Revolução da Economia dita “Colaborativa”.
Luc registra que outro objetivo do livro é explicar a natureza das inovações econômicas, científicas e médicas atuais, e seus benefícios consistentes em transformações éticas, políticas, espirituais e metafísicas, resultantes do progresso da “digitalização do mundo”, o que seria inviável, sem os “big data” (mega dados: área do saber que analisa e extrai informações de grandes conjuntos de dados).
Prevendo avanços da ciência, o cientista e filósofo sueco, Nick Bostrom disse em 2002: “Virá o dia em que nos será oferecida a possibilidade de aumentar nossas capacidades intelectuais, física, emocionais e espirituais muito além daquilo que parece possível hoje em dia. Sairemos, então, da infância da humanidade para entrar na era pós-humana.” Mas, se “velhice e morte” não têm natureza patológica (doentia), por que são tratadas como doenças?
Os cientistas transumanistas defendem o uso da ciência para acelerar nossa passagem do estágio médico tradicional – terapêutico – para fase superior, quando os integrantes da Humanidade deverão ser mais solidários, mais fraternos, mais humanos, acrescendo o autor que o transumanismo é projeto, trajetória, enquanto o pós-humanismo é a meta.
Mas, aqui, impõe-de-me relevar que, se, de um lado, todo progresso encarta mudança, nem toda mudança traz consigo progresso.
O autor descreve dois modelos de transumanismo, sendo o primeiro mais humano que o humano tradicional, e o segundo, conforme previsão, será trans/pós-humanista, como máquina dotada de consciência e emoções.
Concluo, invocando dicção da fotógrafa Nátdaly Seckler sobre a importância da leitura: “Tão importante quanto o ar que eu respiro são minhas leituras, eu devoro livros. Tenho fome de conhecimento.”
Vitória, ES, 10.06.2020
Salvador Bonomo
Ex-Deputado estadual e Promotor de Justiça inativo.